Debilidade económica no ensino superior!

Debilidade económica no ensino superior!

A presença assídua de notícias sobre o ensino superior e o estado da educação em Portugal nos meios de comunicação social tem sido constante. Deste modo torna-se impossível passar despercebido a qualquer pessoa.

O agendamento de temas escolhidos é diverso, surgem os primeiros balanços de um ano lectivo que acabou de terminar para a maioria dos alunos no ensino superior. A um mês iniciar um novo ano lectivo são apresentadas as novas metas a cumprir pela CNE.

O Conselho Nacional de Educação < < alertou para uma elevada percentagem de estudantes numa situação de debilidade económica grave>>. Na notícia do jornal o Público, publicada a 15/07/2013, redigida pela agencia Lusa a CNE recomenda a necessidade de alterações nos processos de candidatura a bolsa.

Numa das recomendações publicadas no Diário da Republica a CNE defende a necessidade de se garantir um bom funcionamento dos serviços de acção social e acabar com as diferentes respostas dentro das instituições de ensino superior, entre outras situações.

Numa altura em que < <Portugal reduziu em 1,5% o investimento nas universidades entre 2008 e 2012>> segundo as informações dadas pela agências Lusa ao Diário económico no dia 10/6/2013.

O estudo realizado pelo Observatório da Associação das Universidades Europeias pretende analisar o investimento dos diversos países no sector universitário.

Os alertas são vários, entre eles relembra os efeitos negativos desta situação, a falta de investimento nas universidades enfraquece as capacidades do pais e aumenta dificuldade de um desenvolvimento económico equilibrado.

A atribuição de menos bolsas veio aumentar o número de estudantes com mais dificuldades, mais uma vez, não posso deixar de referir que estas bolsas são uma “garantia de sobrevivência” dos estudantes que ainda frequentam o ensino superior.

Na minha opinião, nesta crise económica persistente em que vivemos todos os meios devem ser devidamente organizados e disponibilizados por parte do Estado e das instituições de ensino superior, de forma, a dar o melhor apoio a qualquer estudante que pretende concretizar uma licenciatura.

O acordar de consciências adormecidas

Aos 82 anos, cumpre sonho de ser doutor, reportagem TVI transmitida ontem no jornal das oito está a contagiar as redes sociais.

Brasilino Godinho recebe aos 82 anos o diploma da Licenciatura que concluiu em quatro anos. Ao longo deste percurso perdeu muitas horas de sono e surgiram-lhe alguns problemas de saúde graves mas mesmo assim nunca desistiu de realizar o seu sonho.

Hoje é um dos mais recentes e talvez até mesmo o mais velho Licenciado em Portugal, licenciou-se em línguas, Literatura e Culturas na Universidade de Aveiro, com uma média de quinze valores por mérito merece todos os elogios dos colegas e professores que acompanharam neste percurso, para além disso é um excelente exemplo de vida para todos nós.

De notar, que o valor de noticia ( newsmaking ) aqui presente é a conclusão de uma Licenciatura aos 82 tornando-se no factor decisivo para a cobertura mediática deste acontecimento. Os meios de comunicação social tem uma contribuição e de intervenção decisiva no processo de construção social da realidade, transmitindo muitas vezes experiências de vida, estilos de vida, etc

A conclusão da Licenciatura permite-lhe ultrapassar um das suas grandes frustrações profissionais e pessoais.

Brasilino diz que << sermos nós a fazer um trabalho e não podermos apresentar na repartição oficial ao publico como não sendo nosso é frustrante>>, reconhece.

Apesar de já não pretender voltar ao mercado de trabalho, alerta-nos para um problema comum na sociedade de hoje, valorizando em poucas palavras a importância de concluir uma licenciatura no mundo profissional. Nunca é demais valorizar as nossas competências profissionais e pessoais.

Quer que a sua história acorde consciências adormecidas, considera-se um exemplo para os jovens e até mesmo para os idosos.

O seu caminho ainda não terminou, resolveu avançar para o Doutoramento em Estados Culturais na mesma Instituição de Ensino Superior se tudo correr bem daqui a dois anos será o mais velho doutorado.Image

O abandono dos estudos pela segunda vez…

O aparecimento do abandono dos estudos pela segunda vez, na população estudantil adulta, por questões económicas está a surgir como um fenómeno de abandono, nomeadamente no ensino superior privado.

A crise económica que afeta de modo transversal todos os setores da sociedade, chegando por arrasto ao ensino, fazendo aumentar de uma maneira notória, o abandono dos estudos pela segunda vez. «Muitos adultos estão a abandonar os estudos pela segunda vez na vida porque já não conseguem suportar as despesas. No ensino superior privado é neste segmento que mais se notam os efeitos da crise. ». refere-se num artigo do JN de 2011-11-20. A crise veio alterar o paradigma do ensino superior em Portugal, e o abandono, nomeadamente na população adulta, sendo os maiores de 23 anos afectados pelas dificuldades cada vez maiores de suportar as despesas de propinas, o aumento do desemprego é o responsável de estes alunos terem menos condições de prosseguirem os seus estudos, como podemos verificar no mesmo artigo: «O ISLA Campus Lisboa perdeu metade dos alunos com mais de 23 anos. O director-geral, Nelson Brito, sabe que a perda de rendimento e o desemprego estão na base do fenómeno.» ,informação prestada por Nelson Brito, director geral do ISLA.

O aumento do desemprego e a diminuição das deduções fiscais com a educação e maiores dificuldades de acesso a apoios sociais e a bolsas são motivos para o abandono dos estudos, como afirma Nelson Brito “Perante a situação de agravamento no seu emprego e de diminuírem as deduções fiscais com educação, as pessoas estão mais renitentes em tomar a decisão de vir estudar novamente” e  ” (os alunos) Dizem que dificilmente continuarão a estudar connosco se não receberem a bolsa”.

Por fim o abandono dos estudos segundo o mesmo artigo do JN , deve-se 80 a 85% aos motivos de dificuldades no pagamento de propinas «não se pode falar numa “hecatombe”, mas admite que em 80 a 85% dos casos de abandono, os motivos apontados são dificuldades no pagamento das propinas.».

Tendo em consideração o contexto (crise económica por que estamos a passar) e a data da sua publicação (2011-11-20), o que originou esta notícia foi a necessidade de informar e alertar para os efeitos desta crise que se alargou ao ensino, afectando também o programa maiores de 23 anos, como sendo uma questão de atualidade sobre as quais é importante ter uma opinião.  Neste sentido, o tema maiores de 23 anos é noticiado pelos meios de comunicação quando há algum interesse ou desenvolvimento em se abordar o assunto. Um dos valores notícia é precisamente a continuidade dos acontecimentos. Neste caso, as dificuldades económicas estão a levar ao abandono escolar.

Edmundo MoreiraImage

DIFERENTES PERSPETIVAS

Em 9 de Dezembro de 2008, a jornalista Clara Viana publicou um artigo < <Alunos “maiores de 23” não estão nos cursos que garantem mais e melhores empregos>>,no jornal Público.

Segundo afirma a jornalista Clara Viana no mesmo artigo, <<Em três anos, entraram no superior mais de 30 mil destes estudantes. Não deixa de ser sintomático que a maioria das dezenas de instituições a quem o PÚBLICO pediu informações sobre este grupo não tenha conseguido responder. Mas os dados que chegaram permitem, mesmo assim, apontar tendências. Como esta: a maioria destes novos estudantes reproduz o percurso de marca dos seus colegas mais novos. Fogem da Matemática, privilegiam os cursos de Direito e de Psicologia, a sua taxa de transição de ano está aí dentro da média, mas eles quase não se encontram nas faculdades que, segundo o Ministério do Ensino Superior, garantem melhor empregabilidade, e quando estão naufragam.  >>

Esta realidade das escolhas dos cursos por parte destes alunos está relacionada com as motivações que os levaram a regressar ao ensino superior. Influenciando dessa forma todo o percurso académico, incluindo a decisão dos cursos.

A investigação de Eduarda Almeida, apresentada em 2009 na Universidade do Porto explica claramente este dilema, o regresso do programa maiores 23.

Os alunos deste programa não fogem às disciplinas mais “problemáticas”, como está presente no artigo do público, acima mencionado. Simplesmente privilegiam os cursos que lhes trazem mais competências face ao seu percurso profissional. Este estudo acaba por ser pretexto para que o tema maiores 23 volte a ser notícia.

A investigadora recorreu a metodologias qualitativas e quantitativas com objectivo de compreender melhor esta realidade.

A jornalista Clara Viana afirma ainda que este modelo de acesso é visto pelas instituições do ensino superior como um negócio, perspectiva errada esta na minha opinião.

Não será apenas porque as instituições de ensino perceberam que não há futuro sem educação? Mais uma vez este tema volta a ser notícia por parte dos meios de comunicação social.

Quando decidi ingressar no ensino superior através deste programa de acesso, sinceramente nem me importei com as disciplinas que iriam ser lecionadas durante os três anos. A minha única preocupação foi escolher um curso que se enquadra com o meu percurso profissional.

Não encaro este programa de acesso como um sistema sustentável das instituições de ensino mas sim como uma forma de poder completar o meu percurso académico e profissional.

Em 2008, as instituições de ensino já tinham consciência qual seria o caminho a percorrer face ao futuro. Apostando assim neste programa de acesso ao ensino superior, sem qualquer facilitismo, não descurando os padrões de exigência e qualidade do ensino superior em Portugal.

O Rótulo do sucesso em Portugal

No programa Sociedade Civil transmitido pela RTP 2 mobiliza-se ao apresentar soluções nas diversas áreas.

Neste debate sobre programa Maiores de 23 anos estão presentes fontes oficiais e com grande experiencia em diversas áreas. Como, António Carvalho, director ESSE João de deus, Sérgio Almeida, vice-presidente em Portugal da associação de coaching, Lucinda Santos, coordenadora da unidade integrada da formação contínua e Joana Fernandes vice-presidente do ESE de Coimbra.

O agendamento do programa maiores de 23 anos é claramente propositado, tendo como principal objectivo informar e fomentar a discussão na opinião pública sobre o acesso ao ensino superior, dedicando uma hora de debate, precisamente a 12/06/2012 coincidindo com o período de matrículas do programa maiores de 23 anos no calendário escolar.

De notar, que os meios de comunicação social fazem a selecção, a disposição e incidência de notícia, que tem como principal objectivo o debate público. No processo de agenda-setting são definidos quais são os temas da actualidade sobre os quais é mais importante ter uma opinião.

A jornalista Fernanda Freitas modera a participação dos vários participantes no debate e selecciona os temas importantes a debater durante o programa.

A selecção dos temas abordados no debate são inteiramente da responsabilidade da jornalista estando assim presente um dos valores de notícia, o gatekeeper é importante na selecção dos  temas a informar e esclarecer no decorrer do programa.

Nelson Rosado e Marcos Fortes falam das suas motivações e dificuldades desta sua experiência. Na generalidade no decorrer do debate os participantes estão completamente de acordo com este modelo de acesso ao ensino superior (VER AQUI).

António de Carvalho, defensor do conhecimento activo afirma << que este é um sistema diferenciado que permite com que muitas pessoas completem o seu percurso académico. Considerando este modelo mais correcto que o contingente do ensino geral>>, mencionando ainda a sua opinião relativamente ao modelo geral de acesso ao ensino superior.

Na minha opinião António de Carvalho coloca um ponto final nas críticas a este modelo de acesso ao ensino superior quando afirma que <<Portugal perde muito por não valorizar o profissionalismo como uma das formas de adquirir conhecimento. As competências desenvolvidas no mercado de trabalho têm de ser valorizadas>>. Simplesmente não é porque as instituições de ensino contornam o sistema que vamos aniquilar o acesso ao ensino superior através dos programas maiores de 23 anos. O cumprimento das normas do sistema fica à responsabilidade de cada instituição de ensino.

A minha motivação para regressar ao ensino superior acabou por ser a necessidade de sair do paradigma do conforto como diz Sérgio Almeida < <  Portugal mudou nos últimos anos, obrigando dessa formas as pessoas a saírem do paradigma do conforto >>.Esta nova realidade criou em mim a necessidade de adquirir novas competências em várias áreas distintas, só assim conseguimos de alguma forma marcar a diferença no mundo geral.

Susana Oliveira

É um erro pensar que não vale apena estudar…

Adquirir conhecimentos em qualquer situação de vida é uma mais-valia quer a nível pessoal e profissional.

Apesar do apelo do nosso presidente da república ser dirigido essencialmente aos jovens, não nos podemos esquecer que não existe idade para voltar a estudar. Existem inúmeras possibilidades de progredir e evoluir, ver AQUI.

A formação e o saber, é essencial para a construção de qualquer ser humano, neste processo de aprendizagem a qual chamamos de vida.

Independentemente das dificuldades políticas, social e económica na qual estamos inseridos, os licenciados têm mais ferramentas para dar a volta a situação e melhores salários.

Ter um diploma significa ter um melhor e mais bem pago emprego, de acordo com o estudo «Empregabilidade e Ensino Superior em Portugal», levado a cabo por cinco investigadores do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa e do Centro de Investigações Regionais e Urbanas (CIRIUS) da Técnica.  

«Em termos globais, a formação superior garante não só um melhor desempenho na entrada no mercado trabalho, mas também uma melhoria salarial», explica José Luís Cardoso, investigador do ICS e coordenador da investigação, ao Canal Superior.

O «prémio de remuneração» associado às habilitações mais elevadas era de 40% em 2010 (último ano do período em análise), isto é dizer que um diplomado conseguia um salário 40% superior ao de um não diplomado – em 2002, a diferença podia chegar aos 73%.

Desta vez o assunto formação é notícia porque um estudo transformou-se no pretexto para abordar o tema. De acordo com a proposta de Galtung e Ruge existem alguns critérios básicos para que um assunto ou tema tenha carácter de noticiabilidade, como a novidade, proximidade geográfica, um assunto que tenha continuidade ou esteja em consonância. Neste caso, em tempo de crise e elevados índices de desemprego, um estudo que vem revelar que ter mais formação é um meio de alcançar uma melhor oportunidade torna-se pertinente e, portanto, no entender de um órgão de comunicação social passa a ser noticiável. De imediato, outros órgãos de comunicação abordam o assunto e a opinião pública faz comentários sobre o tema. Deste modo, os meios de comunicação têm o poder de agendar os temas sobre os quais falamos no dia a dia…

Susana Oliveira